PRIMEIRA VOZ:
Quem será que nos arremessa estas almas inocentes?
Repara, estão exaustas, completamente esgotadas
Nos seus berços forrados a tecido, os nomes presos ao pulso,
Pequenos troféus de prata que vieram buscar de tão longe.
Há algumas de cabelo negro e espesso, outras carecas.
A sua pele é rosada ou pálida, morena ou avermelhada;
Começam a registar as suas diferenças.
Parecem-me feitos de água; não têm expressão.
Os seus traços estão adormecidos, como a luz em águas tranquilas.
São autênticos monges e freiras vestidos com roupas idênticas.
Vejo-os a cair no mundo como estrelas -
Na ìndia, na África, na América,estes pequenos seres milagrosos.
Estas imagens puras e minúsculas. Cheiram a leite.
Têm as solas dos pés incólumes. Como se caminhassem no ar.
Pode o nada ser tão pródigo?
Aqui está o meu filho.
O seu imenso olhar é desse azul liso e incaracterístico.
Vira-se para mim como uma plantinha cega e luminosa.
Um grito. É esta a amarra que me sustém.
E sou um rio de leite.
Sou uma montanha tépida.
Sylvia Plath
traduzida por Ana Gabriela Macedo
Quem será que nos arremessa estas almas inocentes?
Repara, estão exaustas, completamente esgotadas
Nos seus berços forrados a tecido, os nomes presos ao pulso,
Pequenos troféus de prata que vieram buscar de tão longe.
Há algumas de cabelo negro e espesso, outras carecas.
A sua pele é rosada ou pálida, morena ou avermelhada;
Começam a registar as suas diferenças.
Parecem-me feitos de água; não têm expressão.
Os seus traços estão adormecidos, como a luz em águas tranquilas.
São autênticos monges e freiras vestidos com roupas idênticas.
Vejo-os a cair no mundo como estrelas -
Na ìndia, na África, na América,estes pequenos seres milagrosos.
Estas imagens puras e minúsculas. Cheiram a leite.
Têm as solas dos pés incólumes. Como se caminhassem no ar.
Pode o nada ser tão pródigo?
Aqui está o meu filho.
O seu imenso olhar é desse azul liso e incaracterístico.
Vira-se para mim como uma plantinha cega e luminosa.
Um grito. É esta a amarra que me sustém.
E sou um rio de leite.
Sou uma montanha tépida.
Sylvia Plath
traduzida por Ana Gabriela Macedo
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