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Se estás a chegar

Se estás a chegar, a ir-te embora
estende tuas mãos, com as flores
fica o perfume na minha camisola.

As raízes vindo sob a areia
ocultas do sol buscando a água
abrem-se distantes da semente
em lugares de luz, aí bate o vento.

Outra árvore faz agora a sombra
onde nos sentámos rosto a rosto
as mãos presas na sede da camisa.

O velto cacto voltou a rebentar
no tronco seco já sem espinhos
um pequeno punho humedecido
em breve abrirá noutra flor.


Joaquim Manuel Magalhães

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