Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2007

The water´s edge

ulluwatu etretat quadrant tanah lot Sally Gall

Quando, no nome do mar

Quando digo o nome do mar não é do mar que digo o nome, mas de tudo o que antes e para lá do mar ficou em sobressalto nos perigos da sua travessia. Aprendi isso em lugares raros, como o último silêncio, a última gota de água ou de mel. Francisco José Viegas

Between Worlds

before I could fly re-entry visitation geometry lesson Sally Gall

A secreta viagem

No barco sem ninguém, anónimo e vazio, ficámos nós os dois, parados, de mão dada ... Como podem só dois governar um navio? Melhor é desistir e não fazermos nada! Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos, tornamo-nos reais, e de madeira, à proa... Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos... Por entre nossas mãos , o verde mar se escoa... Aparentes senhores de um barco abandonado, nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem... Aonde iremos ter?- Com frutos e pecado, se justifica, enflora, a secreta viagem! Agora sei que és tu quem me fora indicada. O resto passa, passa...alheio aos meus sentidos. - Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada, a eternidade é nossa ,em madeira esculpidos! David Mourão-Ferreira

Kissing the tears away

Jan Saudek

Life

Jan Saudek

The family

Jan Saudek

Três Mulheres, poema a três vozes (VII)

PRIMEIRA VOZ: A madrugada resplandece no ulmeiro grande junto à casa. As andorinhas estão de volta. Soltam gritos como foguetes a estoirar. Ouço o passar das horas A crescer e a morrer nas cercas. Ouço o mugir das vacas. As cores tingem-se de plenitude, e a palha húmida Fumega ao sol. Os narcisos abrem faces brancas no pomar. Estou calma. Estou calma. Estas são as cores claras e alegres do quarto das crianças, Os patinhos que falam, os cordeirinhos risonhos. Voltei a ser simples. Acredito em milagres. Não acredito nessas terríveis crianças Que me atormentam os sonhos com os seus olhos em branco, as suas mãos sem dedos. Não são minhas. Não me pertencem. Meditarei sobre a normalidade. Meditarei sobre o meu filhinho. Não anda. Não diz ainda uma palavra. Está ainda enfaixado de branco. Mas é rosado e perfeito. E sorri tão frequentemente. Decorei o seu quarto com grandes rosas, Pintei coraçãozinhos por toda a parte. Não quero que ele seja excepcional. É a excepção que interessa ao demónio.

À luz da lua | 22

Young mother sewing Mary Cassat

em frente, a janela aberta

Jill Merriam

És como a janela da manhã

És como a janela da manhã Como os vidros embaciados Como o calor dos lençóis Como o pão mal torrado Para não me ir em jejum Como o olhar cansado que me deitas Assim estendida do teu cansaço sobre o meu E vou-me certamente Que te deixo em frente a janela aberta E te fico espetado na carne Manuel Cintra

escorro de ti para as ruas

Jill Merriam

Levas-me inteiro

Levas-me inteiro Mais longe nos tecidos Algures a germinar Um ovo Em estado de promessa. Choro, talvez Chore ainda mais ainda mais talvez Lavas-me, escorro De ti para as ruas ainda mais de ti Seria simples imaginar Uma das tuas mãos Com os ossos da minha. A outra, a carne. Mas eu não gosto de coisas simples. Manuel Cintra

e ela ardeu

Jill Merriam

Dobrou-se sobre ela puxou-lhe fogo

Dobrou-se sobre ela puxou-lhe fogo Escancarou-lhe os olhos puxou-lhe fogo Cerziu-se-lhe no peito puxou-lhe fogo Tirou-lhe pó de cima puxou-lhe fogo Sentiu-se tão pesado puxou-lhe fogo Cobriu-a de ar; destapou-lhe a carne; mordeu. Era fim de tarde era depressa era comprido Verteu palavras tenras até já não ter voz Chorou, soletrou-lhe o corpo membro a membro E foi no soalho a solidão de a desventrar Tremeu tremeu puxou-lhe fogo E ela ardeu Manuel Cintra

Por momentos, a luz sitiou o teu corpo

Por momentos, a luz sitiou o teu corpo. Era manhã. Eu criminoso olhava-te fingindo-me adormecido. Ousei ainda pensar que te amava, e que os meus dedos não eram só os meus dedos no teu cabelo. Eram vozes altas e ruidosas trepidando em paredes despidas animais acossados pelo incêndio surpreso, ou ainda e simplesmente todo eu num gesto indefinido de sabedoria, pronto a errar. Era manhã. E a luz incidia o teu nome dentro da minha própria cabeça. Ousei ainda nomear objectos, martirizar a linguística até estar inapto a chamar-te, a procurar-te, até não te saber dizer. Apropriar-me da ruína imensa de te perder, e fazer dessa dor uma simples canção de choro e cegueira. Por momentos era manhã. Ou o teu corpo a minha luz sitiada. Fernando M. Dinis do blog FICO ATÉ TARDE NESTE MUNDO Celebrando o seu regresso à blogosfera.

Gray Dawn

Robert & Shana ParkeHarrison

Root Wall

Robert & Shana ParkeHarrison

Retrato

A pele era o que de mais solitário havia no seu corpo. Há quem, tendo-a metida num cofre até às mais fundas raízes, simule não ter pele, quando de facto ela não está senão um pouco atrasada em relação ao coração. Com ele porém não era assim. A pele ia imitando o céu como podia. Pequena, solitária, era uma pele metida consigo mesma e que servia de poço, onde além de água ele procurara protecção. Luís Miguel Nava

Ler contra o silêncio | 12

Lesendes maedchen Gustav Adolph Henning

Funeral blues

Blues Fúnebres Parem todos os relógios, desliguem o telefone, Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos, Silenciem os pianos e com os tambores em surdina Tragam o féretro, deixem vir o cortejo fúnebre. Que os aviões voem sobre nós lamentando, Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto, Ponham laços de crepe em volta dos pescoços das pombas da cidade, Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão. Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste, A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo, O meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção; Pensei que o amor ia durar para sempre: enganei-me. Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas; Emalem a lua e desmantelem o sol; Despejem o oceano e varram o bosque; Pois agora tudo é inútil. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães retirado do Insónia Funeral blues Stop all the clocks, cut off the telephone, Prevent the dog from barking with a juicy bone, Silence the pianos and with muffled

I am here

Helena Almeida

Intus

Helena Almeida

Os Sinais

I Olhar de frente o Sol Assim se aprendem as letras iniciais da Solidão XI Avermelha-te ó pálpebra da noite para saber se ainda estarei vivo XIII Porque te vou erguendo ó torre de papel se cada vez comigo a sós menos me entendo poemas de David Mourão-Ferreira pinturas de Xue Jiye