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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2010

La coiffure

Roman Zaslonov

Haute coiffure

Roman Zaslonov

As raparigas amam muito

As raparigas amam muito. Riem atrás das mãos uma manhã inteira para esconder o vermelho dos beijos que alguém lhes roubou e um nome que vão deixar escapar entre as primeiras palavras que disserem. Vestem do avesso os aventais de chita e fazem o leite sobrar do fervedor e o caldo ser mais salgado do que o mar. Mas é bonito vê-las caminhar descalças ao longo do corredor, como se pedissem um par para dançar. As raparigas amam tanto. Sentam-se em rodas de segredos uma tarde inteira e esquecem no tanque os colarinhos sujos das camisas, e os cueiros, e uma barra de sabão a derreter-se como o seu coração. Mas é bonito vê-las beijar a boca ao espelho no quarto das traseiras e também a outra boca no retrato que a seguir escondem amordaçado na algibeira, não lhes cobice alguém o que não tem. As raparigas amam de mais. Deixam-se ficar sem dizer nada uma noite inteira, bordando no linho dos enxovais letras secretas ao calor do fogão. E picam os dedos distraídos nas agulhas que usaram para descobri

Endormie

Roman Zaslonov

Nunca soube o teu nome

Nunca soube o teu nome. Entraste numa tarde, por engano, a perguntar se eu era outra pessoa - um sol que de repente acrescentava cal aos muros, um incêndio capaz de devorar o coração do mundo. Não te menti; levantei-me e fui levar-te à porta certa como um veleiro arrasta os sonhos para o mar; mas, antes de te deixar, disse-te ainda que nessa tarde bem teria gostado de chamar-me outra coisa - ou de ser gato, para poder ter mais do que uma vida. Maria do Rosário Pedreira

Não é ainda a pele, apenas

Não é ainda a pele, apenas um rumor de lã nas camisolas, um recado a lembrar tardes no feno, linho lavado, o sol mordendo um rio pela manhã ― assim a distância entre a minha mão e o pessegueiro. Na estrada as flores demoram-se até às laranjas, mas o aroma do pomar faz sede e os olhos cegam na promessa de gomos novos e doces, os mais doces. Talvez por isso se continue a viagem sem olhar para trás. Maria do Rosário Pedreira