Avançar para o conteúdo principal

Canção para Leonard Cohen

enquanto nos faltarem fotografias
o futuro estará à deriva.
pero si. yes. la ciudad. a cidade.
a cidade que assinala a urgência no meu
vestido comprido e justo, saída do banco
com o dinheiro negro. the money.
money likes rain. chove.
é insuficiente dizer que chove.
é como dizer dinheiro. ou love. (love não
quer dizer amor). d'accord, got it, há
máximos e mínimos.
concepções copernicianas do espaço.
leonards cohens que espiam atrás de
canções bifurcadas. gerações diferentes.
a realidade não dá conta do recado
because it depends on, you know, pois
depende do expressável. representável.
não basta dizer «tudo tem uma duração».
é preciso dizer «tudo é uma duração».
pero si, chica. la ciudad! a cidade. sim.
mas cala-te um pouco. a cidade
onde agora faz sol. sabe: o sol só é
auto-expressável porque é cópia de si mesmo.
todos os dias copia a fórmula recém-passada
de aplanar nos rostos que vão
demolindo a arte de acordar. wake. up.
e nada resulta para mim.
e nem a metáfora é analgésico.
talvez seja a frequência do subterrâneo
desta cidade de vídeo e respeito
onde cada medo seu espreita atrás de um outro
e um tédio urbano
me surrealiza o dom dos olhos.


Sylvia Beirute
do blog Uma Casa em Beirute

Comentários

Mensagens populares deste blogue

É este o dia anunciado, a hora da desesperança!

É este o dia anunciado, a hora da desesperança! Expulsos de um tempo julgado sem fim, onde os corpos se banharam indolentes e incautos, procuramos em vão, de novo, o caminho...sem um fio de luz, sem alento, sem consolo. Os teus olhos, os meus olhos, os nossos olhos quase cegos choram, tardiamente, a memória ardida, prostrados perante as etéreas cinzas que de nós se apartam. É esta a manhã negra do nosso desalento! Afastados da vida, num devir atormentado que nos lança as presas onde já não há carne,  resta-nos cumprir a pena aceitando-a como um bálsamo. Os meus braços, os teus braços, os nossos abraços esmagados, ameaçados, extintos, são as estátuas de pedra que tomam agora o lugar das árvores caídas. São estas as criaturas inumadas em que nos transfigurámos! E assim, levianos, soterrados no sedimento do nosso desânimo, ora resignados, ora alarmados, seguimos...com a granada dentro do peito. [ alma ]

Quando aprendemos a ouvir as árvores

"(...) quando aprendemos a ouvir as árvores, a brevidade e a rapidez e a pressa infantil dos nossos pensamentos alcançam uma alegria incomparável. Quem aprendeu a escutar as árvores já não quer ser uma árvore. Ele não quer ser nada, exceto o que ele é. Isso é estar em casa. Isso é a felicidade.” Herman Hesse pintura de David Hockney