Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos. Fecha os olhos agora e sossega ― o pior já passou há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão desvia os passos do medo. Dorme, meu amor ― a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste e pode levantar-se como um pássaro assim que adormeceres. mas nada temas; as suas asas de sombra não hão-de derrubar-me ― eu já morri muitas vezes e é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhos agora e sossega ― a porta está trancada; e os fantasmas da casa que o jardim devorou andam perdidos nas brumas que lancei no caminho. Por isso, dorme, meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui, de guarda aos pesadelos ― a noite é um poema que conheço de cor e vou contar-to até adormeceres. Maria do Rosário Pedreira
"(...) Caminho pelos lugares queridos, sem tristeza, nem mágoa, altas, condoídas árvores, lagos serenos escorrendo de meus olhos, hálito azul da tarde que, por cair, de sombras vai tranquilizando o horizonte. Só, meu coração, bate contra a pedra e o silêncio." Rui Knopfli.