A noite encosta-se nas minhas costas como uma irmã que esteve ausente, e promete-me que a morte é apenas mais um movimento. Ela deixa o meu corpo arder vagarosamente na luz que ainda persiste no mar, e lembra-me que esta mesma luz que agora me extingue, é a mesma que iluminou o meu passado, esta mesma chama que agora me arrefece, é aquela que me silenciou os medos, e o mar que me engole tem o mesmo sal que outrora me sarou. A minha irmã impudente e ciosa, cobre-me com um manto pardo, uma pele tecida de pecados e virtudes, áspera, perfumada e penosa, uma mortalha que me consome o oxigénio no seu odor placentário e primordial. Não sei se me entrega, se me devolve, ou me abandona. A noite encostou-se nas minhas costas como uma irmã que esteve ausente, e prometeu-me que a morte era apenas mais um movimento, e os nossos dias um ciclo de Perseidas que não se extingue. [ alma ]
"(...) Caminho pelos lugares queridos, sem tristeza, nem mágoa, altas, condoídas árvores, lagos serenos escorrendo de meus olhos, hálito azul da tarde que, por cair, de sombras vai tranquilizando o horizonte. Só, meu coração, bate contra a pedra e o silêncio." Rui Knopfli.