A noite encosta-se nas minhas costas como uma irmã que esteve ausente,
e promete-me que a morte é apenas mais um movimento.
Ela deixa o meu corpo arder vagarosamente na luz que ainda persiste no mar,
e lembra-me que esta mesma luz que agora me extingue, é a mesma que iluminou o meu passado,
esta mesma chama que agora me arrefece, é aquela que me silenciou os medos,
e o mar que me engole tem o mesmo sal que outrora me sarou.
A minha irmã impudente e ciosa, cobre-me com um manto pardo,
uma pele tecida de pecados e virtudes, áspera, perfumada e penosa,
uma mortalha que me consome o oxigénio no seu odor placentário e primordial.
Não sei se me entrega, se me devolve, ou me abandona.
A noite encostou-se nas minhas costas como uma irmã que esteve ausente,
e prometeu-me que a morte era apenas mais um movimento,
e os nossos dias um ciclo de Perseidas que não se extingue.
[alma]
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