Com
que palavras ou que lábios
é possível estar assim tão
perto do fogo
e tão perto de cada dia, das
horas tumultuosas e das serenas,
Pode bem acontecer que exista
tudo e isto também,
e não só uma voz de ninguém.
Onde, porém? Em que lugares
reais,
tão perto que as palavras são
de mais?
Agora que os deuses partiram,
e estamos, se possível, ainda
mais sós,
sem forma e vazios, inocentes
de nós,
como diremos ainda margens e
diremos rios?
Manuel António Pina
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